fevereiro 19, 2007

Fotografia Virtual: Point and Shoot

"Dia Um" (Half-Life 2) por: Alexo Mello

Voltando ao assunto da arte fotográfica em ambientes virtuais, encontrei um trabalho chamado Point And Shoot, da canadense Cindy Poremba exposto em 2005 no Festival Internacional de Arte e Novas Tecnologias em Praga que trata exatamente deste tema.

O trabalho levanta questões semelhantes às discutidas aqui, sobre a validade da fotografia enquanto arte dentro de universos virtuais. A versão reduzida do artigo, que é o único conteúdo acessível gratuitamente, expõe alguns pontos muito interessantes.

Confira o artigo completo ou veja abaixo os pontos de destaque:

• "A fotografia mantém uma forte ligação tradicional com o evento verdadeiro - o registro do real. Não há real no videogame, então por que haveria fotografia?"

• A capacidade de se controlar a câmera e manipular o ponto de vista do personagem em um jogo é essencial, pois os jogadores ganham controle criativo sobre a composição e sobre o assunto a ser fotografado. Somente com esses recursos é possível tomar decisões criativas em um trabalho de fotografia virtual.

• Assim como é preciso entender uma série de conceitos e saber como utilizar o equipamento fotográfico na vida real, em um ambiente virtual é preciso ter conhecimento técnico específico sobre os controles de câmera do jogo e dominar sua interface.

• "A imagem (virtual) é apresentada não como uma representação inferior da nossa realidade, mas uma representação realista de uma realidade diferente."

• "A fotografia é uma prática inerentemente próxima ao jogo. A composição é baseada em regras (embora regras que podem ser quebradas)."

Poremba usa o termo pós-fotografia, que também é o objeto de estudo da tese Post-photography and beyond do sueco Göran Sonesson, que não fala exatamente sobre videogames, mas sobre as questões da imagem na era da produção digital, tocando no assunto da realidade virtual.

Confira também:

2 comentários:

Alexandre Maravalhas disse...

Alguns comentários sobre os destaques.

Sobre "a fotografia mantém uma forte ligação tradicional com o evento verdadeiro - o registro do real.", discordo parcialmente pois acho a afirmação incompleta. Na fotografia artística é muito comum a busca pelo surreal, por um evento visto de um ângulo não convencional ou mesmo a aplicação de algum recurso visual que fragmente ou que estenda a realidade em uma virtual realidade. Vale na fotografia jornalística, por exemplo, mas há o que questionar neste item.

Quanto ao "capacidade de se controlar a câmera e manipular o ponto de vista do personagem em um jogo é essencial", eu concordo plenamente, inclusive na importância. É por este e talvez outros motivos, que devamos descartar "fotos" de produtos 2D.

Vale diferenciar aqui a fotografia como duas atividades diferentes: a do diretor (desenvolvedor, num momento anterior) e a do fotógrafo (usuário, já no produto acabado).

Sobre "virtual é preciso ter conhecimento técnico específico sobre os controles de câmera do jogo e dominar sua interface", acho quase uma redundância de pensamento. O interessado aqui é o fotógrafo. Um sujeito pode adquirir um equipamento, sair dando cliques e fazer ou não boas fotos; é algo inerente a questões mais avançadas de qualidade mesmo.

Sobre "uma representação realista de uma realidade diferente" é uma abstração que precisa ser melhor desenvolvida! Pode ter relação com o primeiro item...

E sobre "a fotografia é prática inerentemente ao jogo. (embora regras que podem ser quebradas)", acho que é como dizer que a fotografia analógica é interente ao mundo físico... Tem relação com o item que fala do conhecimento dos recursos individuais de cada software (jogo). Quebrar algumas regras em um jogo pode não ser tarefa comum; não sei se a autora estava querendo se referir à atitude criativa em busca de imagens inesperadas.

Ah, grato pela menção sobre a minha foto em HL2!

Lucas Haeser disse...

Obrigado pelos comentários Alexo, são ótimos pontos para se discutir.

Na verdade, acho que quando a autora diz que a fotografia é como um jogo está remetendo diretamente ao conceito de Huizinga em Homo Ludens, onde "jogo" significa qualquer experiência "ritualística" e voluntária onde se impõem certas regras e um determinado tempo e espaço. A frase original era "Photography is an inherently game-like practice", talvez a minha tradução tenha estragado a idéia...

Enfim, para ela o ato de fotografar contém um espírito lúdico, envolve exploração, escolhas, e até mesmo certos "truques". Por isso ela argumenta que a fotografia e os games são práticas próximas por natureza.

Acho que os parênteses sobre quebrar regras quer dizer exatamente o que você comenta no início, se eu quebrar uma regra básica de composição posso criar uma fotografia surreal... o registro do real talvez caiba mais na categoria de foto-jornalismo, mas mesmo aí existe mais do que o mero registro, ainda valem as escolhas pessoais que muitas vezes geram outros significados.

Interessante o que você falou sobre jogos 2D, será mesmo impossível? =)